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Esta semana tivemos a chance de ver que o discurso de respeito fica bem longe da prática do respeito. Não vou entrar no mérito da necessidade ou adequação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) neste momento, contudo quero falar sobre alguns pontos da CPI da Covid, em especial o desrespeito às mulheres que foram lá depor.
Assistimos a um triste episódio da história brasileira e tendo como protagonistas senadores da República, aqueles que, por juramento, deveriam ser os últimos a atuarem neste tipo de episódio trágico. Os senadores juram: "Prometo guardar a Constituição Federal e as leis do país, desempenhar fiel e lealmente o mandato de senador que o povo me conferiu e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil", conforme o Regimento Interno do Senado brasileiro. Porém, assistimos a um desrespeito ao princípio básico de igualdade de todos perante a lei.
Não vi nada de igualdade de tratamento para as duas mulheres que foram depor na CPI. O que vi foi o velho discurso de que quando os interesses são a meu favor eu posso jogar qualquer jogo, até o do desrespeito e da violência contra as mulheres. E essa falta de respeito veio até mesmo de partidos que têm como bandeira políticas públicas feministas (no discurso, é claro). Como é fácil discursar...
Aproveito para parabenizar o Conselho Federal de Medicina (CFM), que de uma forma ímpar não aceitou este momento trágico para o exercício do trabalho de mulheres, estudiosas, cientistas, funcionárias públicas, que em muitos momentos nem a possibilidade da resposta foi dada. Foi lamentável assistir a um tribunal de horrores e desrespeitos a mulheres; sim, mulheres, pois tais fatos não foram vivenciados por nenhum dos homens que foram naquele espaço depor, convidados ou convocados a prestar esclarecimentos.
Espero que todas as mulheres entendam a gravidade deste desrespeito, a gravidade deste momento e de forma muito especial por ele ter como protagonistas senadores da república. O debate científico e de ideias faz parte de processos de construção da democracia, mas o desrespeito às histórias e ao trabalho de mulheres vivenciado foi deplorável. Isso mostra como precisamos nos unir e caminhar! O tapa dado em uma mulher na periferia, ou no salão de um grande prédio, ou no quarto de uma mansão é dado em todas as mulheres. Da mesma forma, a impossibilidade de fala de uma pode reverberar em todas, independentemente de seu viés ideológico. Precisamos cobrar respeito, ter possibilidade de falar, poder discordar, ser escutadas independentemente se o que temos a falar está de acordo ou não com quem questiona.
Prezados senadores, foi lamentável e os fins não justificam os meios. O povo não aceita mais isso. Ninguém aguenta mais tanta hipocrisia. Vamos mudar, vamos fazer do discurso nossa prática. Precisamos de líderes que tenham compaixão, empatia com ação, líderes que têm em suas condutas posturas éticas que saiam do discurso para prática.